Se hoje você acordasse com 15 anos e tudo o que viveu até agora não passasse de um sonho, você ficaria feliz?
Se a sua realidade hoje, como que por um passe de mágica, deixasse de existir e você tivesse uma segunda chance na vida, do que você sentiria falta? O que faria diferente?
“Um dia estava jogada em casa sem fazer nada, vendo meu feed do Facebook, quando vi a seguinte frase em uma postagem: "Se hoje você acordasse com 15 anos e tudo que viveu até agora não passasse de um sonho, ficaria feliz?"”
Essa é a frase com a qual começo meu livro “Reescrevendo Meus Versos”, que conta a história de Anna Júlia, uma mulher de 27 anos que, após ver um post no Facebook com a frase acima, acorda de volta ao ano de 2017, na flor da idade dos seus 15 anos (um fato curioso: eu mesma tinha acabado de fazer 14 anos quando escrevi esse primeiro capítulo). Gostaria de usar esse começo de livro para te levar por uma auto-reflexão hoje:
Se toda a sua vida desde os 15 anos até agora não tivesse passado de um sonho, do que você sentiria mais falta?
Acho que isso é uma pergunta muito importante a se fazer, principalmente em fases de estagnação onde tudo está muito parado, quieto, sem surpresas - isso ironicamente vindo de uma autista que odeia surpresas. Sinceramente, ainda não tive essa experiência em primeira mão, já que minha vida é um caos sem fim de mudanças e surpresas devido ao modelo de graduação que curso. Mas é justamente por causa disso que defendo essa opinião - just hear me out here, I will make it make sense:
em momentos de instabilidade e mudança, me vejo constantemente confrontada com encruzilhadas. E, como minha própria personagem diz em “Reescrevendo Meus Versos”, muitas vezes nessas encruzilhadas a gente acaba deixando pra trás uma ou duas coisas importantes por conta das escolhas que fazemos. Isso implica que, para cada decisão que temos que tomar, somos meio que obrigados a considerar os vários aspectos de nossas vidas onde essa decisão poderia surtir algum efeito. Desde mudar de emprego ou carreira até sair do país; escolher uma opção significa rejeitar as multiplas outras possibilidades que poderiam existir. E é nessas horas que nos vemos obrigados a nos fazer a seguinte perguntinha:
O que realmente importa?
Quero fazer uma pequena referência à famosa metáfora da figueira, de Sylvia Plath em seu livro “A Redoma de Vidro”. Nela, essa questão das multiplas possibilidades é representada como vários figos em uma figueira, e você é a pessoa em frente a figueira, considerando qual figo parece o mais apetitoso de todos para ser o escolhido. Fazendo um paralelo com a minha própria realidade quando tinha 15 anos, eu, de certa forma, já sabia qual figo queria - mas, infelizmente, naquela época, ele não estava ao meu alcance. Eu queria ser advogada. Para a Vitória de 15 anos, os outros figos não tinham a menor importância. Talvez por extrema rigidez ou idealização - ou talvez inexperiência mesmo - mas sempre que me fixava em um interesse novo, nada mais existia além daquilo. Antes de Direito, lembro que me hiperfixei na idéia de ser médica cirurgiã-pediátrica - o que por si só é contraditório sendo que eu simplesmente não consigo ver sangue. E antes disso, estava determinada a ser jornalista. Hoje em dia, não vou negar que ainda tenho essa tendência de idealizar as coisas, mas por ter um pouco mais de experiência - leia-se: agora sei identificar quando estou hiperfixando e, portanto, sei que a fixação tem prazo de validade - não me deixo levar muito por elas, o que ao mesmo tempo facilita e dificulta as coisas na hora de tomar decisão.
facilita pois consigo manter meu leque de opções mais aberto
dificulta pois deixo ele aberto um tanto demais e na hora de fechar, não consigo me decidir por isto ou aquilo principalmente se ambas as opções me parecem igualmente atraentes - mas acho que isso é normal.
Enfim, acho que saí um pouco do foco - bom que isso aqui não é a minha tese - mas o que eu quis dizer com todo esse blablabla é que quando estamos em fases onde precisamos tomar várias decisões - como, por exemplo, o começo da vida adulta, onde depois de uma infância e adolescência inteira sendo ensinados a simplesmente obedecer sem questionar, do nada é esperado de nós que saibamos o que queremos fazer da vida - somos constantemente obrigados a definir nossas prioridades, o que para nós tem um valor maior, o que é mais importante; e é por meio dessas escolhas que definimos o que gostamos ou não em nossas vidas e, em cada escolha, temos a chance de adaptar o que não tá dando certo ou redefinir o nosso rumo por completo.
Porém, em fases nas quais já tomamos essas decisões e chegamos em um ponto deveras confortável, é muito fácil simplesmente se acomodar e se “esquecer” de outras partes que necessitariam um pouco de atenção - uns reparos, talvez, citando Frozen. Isso foi o que acabou acontecendo com a Anna Júlia: aos 27 anos, ela se encontrava em um trabalho no qual gostava - não de uma maneira fervorosa, mas era algo que lhe trazia mais satisfação do que aulas de Álgebra no colégio - morando em Vancouver, bem longe do lugar onde havia passado a maior parte de sua vida e toda a sua adolescência; e bem longe do que havia sido seu primeiro e último amor, o qual ela, durante essa reflexão, percebe que ainda não superou. E, o que no fim das contas ela acaba percebendo é que a vida que levava em Vancouver não tinha nada de especial que ela fosse sentir falta. Pois, apesar da estabilidade e de não mais ter que estudar Exatas, a Anna Júlia de 27 anos escolheu deixar seu coração em São Paulo no momento em que entrou no avião rumo ao Canadá. E com ele ficou também sua paixão pelas coisas - esse sentimento que nos faz pulsar pelo que fazemos.
Pense em sua vida atual.
Repito a pergunta: do que mais você sentiria falta dela?
Meio clichê, mas eu diria que a coisa - ou melhor, pessoa - da qual eu mais sentiria falta se acordasse hoje novamente em 2018 no dia do meu aniversário de 15 anos seria meu namorado, parceiro e melhor amigo. O jeito que nos conhecemos na época foi tão por acaso, que eu não gostaria de dar ao acaso a chance de ele simplesmente não se repetir. Pois, se eu realmente acordasse do nada com 7 anos a menos, ele seria a primeira pessoa para quem eu contaria a loucura que acabara de me acontecer. Mas se estivessemos de volta a 7 anos atrás, significaria que nem estaríamos no mesmo país - o que já aconteceu diversas vezes nos últimos 2 anos, mas a última vez que ficamos por tanto tempo sem nos falar foi quando tinhamos acabado de nos conhecer em 2020 durante 1 mês e meio de lockdown.
Há 5 anos atrás.
Há 5 que não sei como é uma vida sem ele na minha vida.
E, para uma pessoa de 22 anos, 5 anos é um bocado de tempo.
Tanto que nem me lembro como era a minha vida antes de a gente se conhecer.
É sério.
Ok, não no sentido literal, óbvio que tenho memórias. Você entendeu.
Clichê, ou cringe, como meu irmão costuma dizer? Com certeza.
Mas pouco me importa, sou cringe Zillenial mesmo.
Agora, pelo outro lado da coisa, se tem algo que me deixaria muito feliz em ter 15 anos novamente seria poder ouvir a voz e abraçar minha vovó mais uma vez. Sinceramente, seria a única coisa que me deixaria feliz em ter 15 anos de novo, porque cá entre nós, essa não foi lá a melhor fase da minha vida. Mas se eu faria algumas coisas diferentes…apesar de achar que cada uma das experiências que tive foram necessárias para minha evolução como ser humano, se eu tivesse a oportunidade de “refazer” alguns momentos onde minha atitude não só não foi legal como machucou bastante outras pessoas queridas ao meu redor; isso eu faria. Pois, principalmente no ano de 2018, tiveram muitas delas. Além de situações deveras vergonhosas - como quando eu paquerava um carinha da sala da minha melhor amiga e tive a idéia de jerico de mandar mensagem para ele no whatsapp fingindo que não sabia de quem era o número - mas que depois de praticamente 7 anos, viraram simplesmente histórias hilárias da minha adolescência. All in all, não acho que mudaria muita coisa não.
Só não gostaria de reviver certos momentos mais pela vergonha alheia mesmo.
Hm, se bem que acordar com 15 anos no primeiro ano do ensino médio antes do início da minha torturosa Klausurenphase (fase de provas) do quarto semestre da faculdade não me parece tãããão ruim…acho que vou ali no Facebook caçar um post mágico e ver se eu caio no sono rsrs…
xoxo
a garota dos óculos roxo